terça-feira, 29 de novembro de 2011

GUERRA ENTRE GREGOS E PERSAS

          Senhora da costa oriental do Mediterrâneo, dominando numerosas cidades gregas da Ásia Menor, pretendia a Pérsia expandir mais para o ocidente os seus territórios, conquistando a Península Helênica e, assim, concluir sua dominação sobre os gregos.



          A primeira dessas tentativas realizou-se em 492 a.C. e constou do envio de um exército, através do Helesponto (Dardanelos atual) e da Trácia, em direção ao interior da Grécia, acompanhado por uma esquadra que o seguiria pelo litoral do Mar Egeu, a fim de garantir-lhe o flanco esquerdo e o apoio logístico. Tal tentativa não deu resultados satisfatórios porque uma boa parte da esquadra persa foi destruída pelo mau tempo quando contornava o Monte Atos, junto à costa. Sem o apoio naval, retirou-se o exército invasor para a Ásia sem levar adiante o seu intento.


          A segunda tentativa , em 490 a.C., realizou-se através do mar, desembarcando o exército persa na Ática, depois de haver cruzado o Mar Egeu. Mais uma vez frustrou-se a intenção do invasor, com a derrota que sofreu, após o desembarque junto a Maratona (região da Ática, na Grécia Central, frente ao Mar Egeu).
          Em 480 a.C. um exército de cerca de 180 mil homens deixou a Ásia Menor e atravessou o Helesponto em direção à Península Helênica. Paralelamente, saiu desse estreito uma grandea força naval composta aproximadamente de 1.300 navios com a mesma missão da primeira invasão.


          A esquadra persa era composta de navios e marinheiros de diversas origens, pertencentes a estados dominados pelo Império Persa, notadamente fenícios e gregos da Ásia Menor, obrigados estes a combaterem seus parentes helênicos. Depois de passar pelo Canal de Xerxes, aberto especialmente para se evitar o contorno do Monte Atos, a esquadra prosseguiu ao lado do exército triunfante. Nas Termópilas, a tentativa de Leônidas, Rei de Esparta, para conter o avanço inimigo, fracassou*.  Retiraram-se os gregos mais para o sul, enquanto Atenas era ocupada pelos persas. No istmo de Corinto pararam as forças gregas de terra. Temístocles, o grande chefe grego, também decidira levar sua esquadra para lá, cerca de 300 navios de guerra. O persas, além do seu exército, até então vitorioso nessa campanha, contavam ainda com uma força naval de cerca de 800 navios, reduzida que fora por uma sucessão de tempestades, o flagelo dos antigos navios. Restavam aos gregos duas opções: a resistência no istmo de Corinto ou o emprego decisivo de sua esquadra. Ocorreu então a Temístocles a grande ideia: não eram os persas dependentes de suas linhas de comunicações marítimas? Por que não cortá-las? Cabe aqui uma explicação. O exército persa era bastante grande para a época e não poderia encontrar no território ocupado todos os recursos necessários ao seu sustento. Fazia-se, pois, imprescindível a vinda de recursos de fora, o que era garantido pela marinha persa, através do Mar Egeu. Temístocles deduziu, então, que o exército invasor era dependente da marinha para o pleno êxito de suas manobras terrestres.


          Depois de convencer aos demais líderes, alguns dos quais já ameaçavam desistir, Temístocles conseguiu reunir a esquadra grega em local adequado, no Golfo de Salônica, junto a ilha de Salamina.
          Atraídos os persas para este local, deu-se a famosa Batalha de Salamina, que redundou na vitória dos gregos, bastante inferiores em número.
          FICOU PROVADA A VULNERABILIDADE DOS EXÉRCITOS OPERANDO LONGE DE SUAS BASES, QUANDO DEPENDENTES DE COMUNICAÇÕES MARÍTIMAS, SE ESTAS NÃO FOREM DEVIDAMENTE CONSERVADAS.

* A fim de cobrir a retirada do exército grego, o Rei Leônidas e 300 companheiros puseram-se no desfiladeiro das Termópilas, em ponto capaz de atrasar a marcha do exército persa. Intimado por Xerxes a render-se, sob o argumento de que os persas eram tão numerosos que suas flechas cobririam o Sol, Leônidas respondeu: "Tanto melhor, combateremos à sombra". Os espartanos foram massacrados porque um traidor revelou aos persas uma passagem através das montanhas.

ALBUQUERQUE, Antônio Luiz Porto. Fatos da Históra Naval. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 2006. Págs. 26/29.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

AS CONQUISTAS ROMANAS

Delenda est Carthago

          A frase título acima que significa " É preciso destruir Cartago", usada por Marco Pórcio Catão, chamado "Antigo" ou "O Censor", senador famoso em Roma, simboliza uma época: a luta entre CARTAGO, potência marítima de primeira ordem dentro do Mediterrâneo e ROMA, que se afirmava como potência terrestre em plena expansão continental. A causa primordial das chamadas GUERRAS PÚNICAS foi a rivalidade comercial marítima.
          No século II a.C., Cartago, antiga colônia fenícia no norte da África, exercia intensa atividade comercial marítima no Mar Mediterrâneo. Os romanos haviam acabado de conquistar a Península Itálica, englobando em seu novo território político as cidades gregas do sul da "bota" italiana. Eles eram excelentes soldados em terra, que em sucessivas campanhas dilataram o que mais tarde formou o Império Romano.


          Vendo a expansão romana, Cartago logo pressionou os gregos da Sicília, produtores de trigo, a fim de manter essa ilha sob sua tutela, antes que Roma se apoderasse dela. A ameaça cartaginesa, entretanto, gerou a grande crise que se iniciou em 264 a.C. e que só terminou após três guerras sucessivas, com o arrasamento da cidade de Cartago em 146 a.C.
          Na verdade, sendo uma ilha o pivô da disputa, a guerra a se travar tinha que ser marítima; e Cartago tinha a vantagem. Com sua poderosa e adestrada marinha, os cartagineses punham sua capital a salvo das investidas romanas, enquanto interditavam o comércio marítimo de Roma e pilhavam suas costas.
          Não restava aos romanos outra alternativa. A serem derrotados por Cartago, tinham que se transformar em nação marítima. Era o grande desafio que a guerra trazia aos latinos.
          E Roma se transformou em potência marítima.
          Os romanos constroem as necessárias GALERAS que lhes são também cedidas pelas cidades gregas aliadas. Os remadores exercitam-se nas areias do rio Tibre e, depois, partem para o mar. Para vencerem, põem sua capacidade inventiva à prova e imaginam ter no mar as vantagens que tinham em terra.


          A tática naval tinha apenas um componente marinheiro: as manobras de aproximação. O resto era como na batalha campal: abordagem e luta corpo a corpo.   
Entretanto, possuíam os navios de guerra formidáveis ESPORÕES, com que se tentava investir contra o navio inimigo para afundá-lo com toda a sua guarnição, sem necessidade de abordagem. Era preciso evitá-lo. Se os romanos não introduzissem alguma alteração na tática, certamente levariam a pior. Eles não temiam o combate corporal, em que eram superiores aos cartagineses.
          Mas, e a aproximação das esquadras?
          Em meio à manobra, os cartagineses, superiores marinheiros, poderiam investir com seus esporões antes de dar aos romanos a oportunidade de se valerem  de sua superioridade militar.
          Inventou-se o CORVO, do latim corvus. Foi a solução romana. Constava de uma prancha articulada no pé do mastro e presa à sua extremidade superior, possuindo um gancho em forma de bico de corvo, daí o seu nome. Ao se aproximarem do inimigo a uma razoável distância, os romanos largavam o corvo, que caía sobre a galera inimiga, fazendo-se perder sua mobilidade, já que ficava presa. Pela prancha passavam os soldados de Roma, que iam encontrar seus adversários no convés inimigo. Tal engenho, aliado a total surpresa com que apareceu, foi a causa da primeira grande vitória romana no mar sobre os cartagineses na BATALHA DE MILES, na costa da Sicília, em 260 a.C.

corvo

          Roma saiu da primeira Guerra Púnica tranformada em potência marítima, apta a dirigir sua expansão também pelo mar.
          A Segunda Guerra Púnica foi eminentemente terrestre, na qual o gênio cartaginês de Aníbal soube fazer uma potência de tradição marítima como Cartago levar Roma quase à rendição por meio de uma campanha terrestre partida da Espanha, colônia cartaginesa.
          Enfim, as Guerras Púnicas tiveram um acentuado motivo econômico pela disputa do Mar Mediterrâneo e seu entorno.

ALBUQUERQUE, Antônio Luiz Porto. Fatos da História Naval. Rio de Janeiro: Serviço de Documentação da Marinha, 2006.

domingo, 27 de novembro de 2011

ARMAMENTO DA LEGIÃO

ARMAMENTO


          Os romanos, além do bronze usavam o ferro para a fabricação de suas armas de defesa e de ataque.
          O armamento era o seguinte:

           DEFENSIVO:

           - Capacete: a princípio de couro, depois de bronze, provido de tapa-nuca, jugular e viseira;
           - Escudo: longo retângulo (1,25m x 0,78m) de mistura curva, coberta de couro e guarnecida de peças de ferro, para o infante; o escudo do cavaleiro era menor e redondo (parma);
           - Couraça: de couro, coberta de escamas de ferro, que protegia as espáduas, o peito e o ventre; destinava-se ao infante pesado; para o ligeiro e para o cavaleiro, a couraça era uma veste especial de couro ou feltro; borzeguins com guarnição de ferro protegiam as pernas, até os joelhos, dos elementos da cavalaria; sandálias eram destinadas à infantaria.

           - Braçal: de metal, era usado por arqueiros, no braço esquerdo; finalmente, por baixo da couraça, vestiam uma túnica e uma calça; além disso, era de uso um grande manto de pano.

           OFENSIVO

           - Pique: haste de comprimento superior à altura do homem - 1,80m;

           - Dardo: (pillum): de 1,30 de comprimento e de ponta aguçada, de ferro, de forma triangular, podia ser atirado percorrendo de 25 a 60 metros. Conforme fosse lançado a simples impulso do braço ou com a ajuda de uma tira de couro, servia também como lança;
           - Espada (gládio): de fabricação espanhola, curta, de dois gumes; os oficiais a conduziam do lado esquerdo, presa ao cinturão; os soldados, do lado direito e fivelada ao boldrié.


               Para montar os cavaleiros arriavam os cavalos com sela sem estribo e os dominavam com o freio. Isto tudo, porém, fez-se muito mais tarde, pois, em princípio, só usavam manta e freio.

AZEVEDO, Pedro Cordolino F. História Militar. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1998.

ORGANIZAÇÃO MILITAR DOS ROMANOS

A LEGIÃO

          A Legião foi a unidade principal dos exércitos romanos que contribuiu decisivamente à elevação de Roma como grande potência.
         Originada da própria organização da cidade ao nascer, formou-se pela população válida das tribos, em que cada uma contribuía com 100 soldados de infantaria (centúria) comandadas por um centurião e 10 cavaleiros (decúria), sob o comando de um decurião.
         Esta foi a formação embrionária da legião, corpo misto composto  de infantaria pesada e ligeira e cavalaria.
         Só podia ser legionário o cidadão romano que possuísse determinado poder aquisitivo. Essa regra sofreu, porém, muitas exceções, pois, em ocasiões críticas, não se hesitava em aceitar para o serviço cidadãos sem propriedades, sem fortuna, e até mesmo escravos.
         Sérvio Túlio foi o primeiro que estabeleceu o recrutamento pelo censo. Neste caso, só eram chamados às armas os guerreiros necessários. A mobilização geral decretada obrigava todos a se apresentarem para o serviço militar, suspendendo-se, assim, as insenções.
          No período republicano continuou o mesmo sistema de recrutamento, pois só as classes patrícias podiam servir nas legiões. Houve, porém, uma alteração, sob o Cônsul Caio Mário, que estendeu essa obrigação normalmente aos proletários e aos plebeus.
          No Império, os aristocratas abandonaram o Exército, que passou a ter apenas voluntários e, na falta destes, teve de se socorrer dos mercenários e até dos escravos.
          A educação militar começava entre os romanos com a infância nos ginásios e ia até o Campo de Marte, onde se treinavam os exércitos militares, obtendo-se, assim, seu desenvolvimento profissional e uma perfeita formação moral. Aprendia-se a manejar as armas e a trabalhar com a pá e a picareta.
          Os homens de 17 a 60 anos eram divididos em cinco classes (Hastários, triários, vélites, equites e príncipes) e, destas, só eram convocadas quatro classes para as guerras com Cartago. Nenhum legionário deveria passar mais de 16 anos no Exército.
          Resumindo, de acordo com o General Canonge, as fases por que passou o recrutamento do pessoal para a legião:

1ª fase - serviço geral, obrigatório e pessoal: vem de Rômulo a designação da Legião - de leggere = escolher - e relativa à reunião dos três mil pais de família que, sob aquele nome, Rômulo reuniu em torno de si.
2ª fase - com Sérvio Túlio o serviço manteve-se pessoal e não mais geral, porque era regulado pelo censo; até então, todo cidadão era soldado.
3ª fase - por determinação do Cônsul Mário, por necessidade ou por plano político, admitiram-se os proletários e voluntários e suprimiu-se a exigência de fortuna.
4ª fase - serviço voluntário e mercenário estrangeiro (teve início com Otávio Augusto).

AZEVEDO, Pedro Cordolino F. História Militar. Rio de Janeiro: Biblioteca do Exército, 1998.

Soldados romanos durante as Guerras Púnicas